Texto da colaboradora da Alu-cek, Bruna Shimidt (foto acima, de Blusa azul), uma das líderes na organização do Café voluntário na COOPREVIVE:
Recebemos a notícia do desafio voluntário e logo pensamos: podemos trabalhar com duas frentes, em que uma equipe oferecerá um café da tarde para os colaboradores da empresa COOPREVIVE organizada pela dona Marisa, cooperativa que faz a coleta seletiva do lixo aqui na Alu-Cek que fica no bairro Novo Horizonte, em Sapucaia do Sul.
Até então, não tínhamos noção de como era essa cooperativa, só sabíamos que o caminhão chegava na empresa e fazia a coleta do lixo. Tivemos cerca de uma semana de preparo onde organizamos os alimentos, as pessoas e os carros disponibilizados, embora só uma parte da empresa fosse junto na visita, todos ajudaram.
Enfim o dia chegou e estava tudo preparado, fomos em seis pessoas com todo o material, chegando lá vimos que a cooperativa na verdade ocupava um pavilhão sem várias telhas, e as que restavam estavam caindo de acordo com os ventos, ou seja, quando chove todos trabalham na chuva, também estava sem iluminação o que reduz o trabalho a enquanto o dia está claro, o pavilhão não tem portões nem grades, então também há furto de material durante a noite. Alem disso há uma salinha com uma mesa, algumas cadeiras e uns pratos para almoço, como não energia elétrica elas esquentam o almoço com um fogareiro arranjado com uma carenagem de destroços. Sim “elas”, nesta parte da cooperativa só tem mulheres, elas recebem os bags de caminhões que passam nas residências, a outra parte da cooperativa são os homens que vão de caminhão buscar os lixos empresariais que são mais bem separados, porém esta parte fica no Bairro Vargas em Sapucaia do Sul. Bem, estas mulheres fazem o trabalho árduo de pegar esses bags de lixo enormes, colocá-los sobre esteiras e separar manualmente papel, plástico, isopor, etc., jogando fora o que não é reciclável mas que mesmo assim as pessoa mandam misturado ao lixo, o que além de dar mais trabalho para elas ainda desperdiça material que poderia ser reciclado por contaminação com comidas e líquidos residenciais.
Lá não há encanamento nem esgoto, então fizeram uma patente, e trouxeram um bebedor para tomar água e lavar as mãos. Todas lá recebem igualmente o lucro da venda dos materiais reciclados, diversas mulheres que lá trabalham vivem em situações precárias, sustentando suas famílias, algumas ainda não se recuperaram da chuva de granizo do ano passado que as fez perderem tudo, outras ainda têm por volta dos seus 19 anos, mas que já estão tendo que trabalhar para o próprio sustento.
Dona Marisa está nesse trabalho há dez anos e já tem muito conhecimento sobre materiais, composição e reciclagem. Mas uma coisa que nos doeu o coração foi saber que elas já haviam conquistado uma estrutura melhor mas que uma pessoa que já trabalhou lá antes, saiu da cooperativa e pôs fogo, sendo que a cooperativa possuía até prensas para o lixo, o que as deixou novamente na estaca zero tornando todo o processo manual novamente, mas elas não se abalaram e continuam na luta, sempre com um sorriso e sem raiva dos que as prejudicaram, já têm vários planos para o local, e continuam trabalhando, procurando parceiros já que a prefeitura também não os ajuda.
Proporcionar este café realmente foi muito melhor do que esperávamos. Além de aprender sobre a importância da reciclagem, de separar os lixos corretamente e do quanto isso pode fazer a diferença na hora delas fazerem a separação podemos também falar um pouco sobre o que nos move e por que estávamos oferecendo este café. Elas agradeceram e então todos comemos.
Para elas talvez tenha sido somente um café especial, um agrado inesperado de alguns desconhecidos, mas para nós foi muito mais que isso, foi abençoador, afinal, não se pode passar perfume em alguém sem que suas mãos fiquem perfumadas.
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